Açores: Espécies Exóticas de Insetos Aumentam com o Impacto Humano
Surge um novo estudo que revela que as espécies exóticas de insetos, aranhas e outros artrópodes estão a aumentar nos Açores.

Aranha-tenaz (Dysdera crocata), uma das espécies exóticas detetadas neste estudo.
Investigadores de Portugal, França e Finlândia realizaram um estudo onde observaram os insetos capturados ao longo de seis anos na floresta nativa da ilha Terceira, nos Açores. Foram analisados os padrões de diversidade e abundância, assim como, a sua origem geográfica.
Em análise estiveram as espécies endémicas, que apenas podem ser encontradas no arquipélago, e as espécies exóticas, que foram introduzidas no mesmo de forma consciente ou inadvertidamente, através de atividades económicas.
O estudo revela que a diversidade de espécies exóticas de insetos, aranhas e outros artrópodes nos Açores está efetivamente a aumentar. Este padrão tem vindo a ser observado também noutras ilhas em todo o mundo, o que pode contribuir para agravar a atual crise de biodiversidade.
Registou-se ainda uma ligeira diminuição da abundância de espécies endémicas no arquipélago, ou seja, das espécies que não se encontram em mais nenhum outro lugar do planeta.
O aumento da diversidade pode indicar a alteração dos ecossistemas
A investigação ocorreu entre 2013 e 2018. Durante esse período foram capturados mais de 30 mil artrópodes, correspondendo a 159 espécies, das quais 32 são endémicas. A captura ocorreu na Terceira - a ilha que contém a maior área de florestas nativas do arquipélago.
O aumento da diversidade de espécies exóticas de insetos poderá implicar uma alteração em vários tipos de serviços de ecossistemas, perturbando processos como a predação e a reciclagem de nutrientes.
A fragmentação dos habitats nativos e a proximidade de alguns desses habitats não-nativos, está a promover um fluxo de espécies exóticas de insetos para a floresta nativa. Este processo parece estar a aumentar nos últimos anos derivado, possivelmente, à combinação de alterações climáticas e à degradação da floresta nativa por plantas invasoras.
Foram observadas as espécies exóticas de insetos endémicas, não endémicas nativas e exóticas
Para o estudo foi utilizado um conjunto de dados de série temporal exclusivo e testadas as hipóteses das causas da perda da biodiversidade, que estão a alterar a diversidade e a estrutura da abundância relativa das espécies, endémicas, não endémicas nativas e exóticas.
Também foram examinadas as tendências temporais da abundância para cada espécie individual. Registou-se, por fim, um claro aumento da diversidade de espécies exóticas de insetos e algumas evidências da tendência para diminuição da abundância em algumas espécies endémicas.
A aranha-do-cedro-do-mato parece sofrer impacto
O arquipélago dos Açores oferece às espécies exóticas de insetos o máximo de abundância e diversidade nos habitats criados pelo homem, como zonas urbanas, campos agrícolas, pastagens e matas de árvores exóticas.
Aranha-do-cedro-do-mato (Savigniorrhipis acoreensis), espécie endémica do arquipélago dos Açores que existe em todas as ilhas, com exceção da ilha do Corvo.
Uma das espécies endémicas dos Açores é a aranha-do-cedro-do-mato ou Savigniorrhipis acoreensis. Esta espécie habita nas copas das árvores e parece estar a ser impactada pela presença de espécies exóticas ou por fatores climáticos, como a maior secura no verão.
A conclusão do estudo permite ter uma visão diferente e complementar os vários trabalhos científicos que têm alertado para um declínio global da abundância e diversidade de insetos. Tais estudos têm sido realizados sobretudo no continente europeu e norte-americano, existindo outras regiões pouco estudadas, como é o caso das ilhas.
As ilhas oferecem um património único
Se por um lado, no continente europeu e norte-americano se observa um declínio da abundância de insetos, nomeadamente devido ao uso de pesticidas, as ilhas, por sua vez, possuem um património único de espécies.
É por isso essencial conhecer os fatores promotores de erosão da biodiversidade, para definir estratégias de gestão da conservação dos seus habitats.
Este é, assim, o outro lado da atual extinção. As espécies exóticas de insetos aumentam com o impacto humano, um fenómeno que já era conhecido em ilhas de todo o mundo, embora não claramente quantificado nos Açores.
O estudo resulta da colaboração de investigadores da Universidade dos Açores, como Paulo Borges, do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c e primeiro autor do artigo científico resultante da investigação. Contou também com o contributo da Universidade de Pau, e de Pedro Cardoso, curador do Museu de História Natural da Finlândia.