Estamos a viver a década decisiva para o planeta
À medida que fenómenos climáticos extremos se tornam cada vez mais comuns, o prazo para enfrentar os desafios relacionados com as alterações climáticas está a esgotar-se. O estado do planeta exige ações climáticas globais mais céleres e decisivas.
O recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) da ONU alerta que o futuro pode trazer desastres naturais sem precedentes. No entanto, esse cenário pode ser drasticamente diferente, mediante os esforços globais e as ações para reduzir as emissões de carbono. António Guterres, Secretário-geral da ONU, classifica o novo relatório do IPCC como um "atlas do sofrimento humano e uma condenação da falha de liderança climática" e acrescenta que “agora é a hora de transformar a fúria em ação. Cada fração de um grau importa. Cada voz pode fazer a diferença. E cada segundo conta.”
O relatório apresenta cenários possíveis futuros, oferecendo vislumbres daquilo com que nos podemos deparar consoante o nível de aquecimento projetado e a capacidade de adaptação da sociedade às mudanças. Se a humanidade falhar em reverter a sua curva de emissões e, além disso, duplicar a extração de combustíveis fósseis e aumentar o estilo de vida dependente de energia intensiva, a temperatura global irá aumentar cerca de 4 graus. Neste cenário, a Terra estará mais quente do que alguma vez esteve em milhões de anos.
Num panorama mais otimista, consistente com a meta definida no Acordo de Paris em manter o aquecimento global abaixo dos 1,5 graus, as nações têm de ter uma ação imediata para reduzir a utilização de combustíveis fósseis. Segundo a análise do IPCC isto permitiria que o planeta atingisse as emissões zero entre meados e final do século XXI e que a Terra aquecesse cerca de 1,4 graus.
Este último relatório reforça o alerta vermelho que tem sido lançado nos últimos anos.
Ainda assim…
A miríade de efeitos das alterações climáticas não para de aumentar. Em Lisboa, o tráfego e a poluição já ultrapassaram os níveis pré-pandemia, atualmente com mais carros privados em circulação do que em 2019. Segundo o seu último relatório, a Agência Europeia do Ambiente estima que em 2018 já tenham ocorrido 4900 mortes prematuras associadas aos efeitos da má qualidade do ar, em Portugal.
As alterações climáticas continuam a alimentar furacões, inundações, incêndios e a ameaçar vidas e ecossistemas em todo o mundo. Mesmo que a humanidade consiga controlar as emissões de gases com efeito de estufa, os especialistas alertam que até 2050, 200 milhões de pessoas poderão ser afetadas pela subida do nível do mar e por cheias.
Várias investigações indicam que as alterações climáticas estão a tornar as vagas de calor mais longas, mais quentes e mais perigosas. Um estudo publicado este ano na revista Nature Climate Change anunciou que mais de um terço de todas as mortes associadas a vagas de calor, como as que ocorreram nos EUA e no Canadá este verão, podem ser atribuídas às alterações climáticas. De acordo com o mesmo artigo científico, em Portugal, o aquecimento global é responsável pela morte de 172 portugueses por ano.
Outros especialistas afirmam que furacões como o Ida, que atingiu a Costa do Golfo e a região nordeste dos EUA em agosto, são um exemplo de como podem vir a ser as tempestades num planeta em aquecimento, tornando-se mais lentas e mais capazes de crescer de forma exponencial.
A década que tem de ser diferente
Apesar dos esforços que durante décadas tentaram mitigar as alterações climáticas, as emissões globais continuaram a aumentar até os confinamentos de 2020 provocarem um ligeiro decréscimo. Este ano a progressão da poluição conseguiu rapidamente “recuperar terreno” e voltámos a ser surpreendidos pelo impacto devastador dos fenómenos extremos.
Para acompanhar o ritmo avassalador destas alterações, é imperativo acelerar a transição energética das economias mundiais, fazendo com que dependam cada vez menos de combustíveis fósseis, à medida que os substituem por fontes de energia limpas, rumo à descarbonização. De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), o crescimento anual das energias renováveis terá de aumentar pelo menos quatro vezes até 2030 e atingir uma quota de quase 90% da produção de eletricidade até 2050, para que o compromisso do Acordo de Paris seja cumprido. No relatório anual sobre hidrogénio, a AIE indica que os governos devem aumentar o investimento em hidrogénio com baixo teor de carbono e generalizar a utilização desta energia mais limpa em todos os setores, metas que saíram reforçadas no recente Pacto de Glasgow, no fecho da COP26.
A paisagem energética global precisa de mudar mais nos próximos 10 anos, do que mudou no século anterior. A década de 2020 tem de ser marcada pela transição maciça para a energia descarbonizada.
O roteiro português para a neutralidade carbónica
Em 2016, Portugal foi a primeira nação do mundo a anunciar uma meta para atingir a neutralidade carbónica, na Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas.
O plano português para a transição energética espelha a linha de objetivos do Pacto Ecológico Europeu (“Green Deal”) - a estratégia da Comissão Europeia para que a Europa se torne o primeiro continente a alcançar a neutralidade carbónica até 2050. Para atingir esta meta e, ao mesmo tempo, mitigar o efeito das alterações climáticas e contribuir para uma economia verde, um dos setores com um papel decisivo é o setor energético.
Em 2019, foram aprovados o Roteiro para a Neutralidade Carbónica em 2050 (RNC2050) e o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC 2030), este último com metas concretas para 2030. Uma delas é reduzir as emissões de gases com efeito de estufa entre 45% a 55%, alinhando-se com a ambição da Comissão Europeia de uma redução de 55%.
Para esta década decisiva, a EDP apresentou um compromisso ambicioso: atingir a neutralidade carbónica já em 2030, tornando-se uma empresa 100% verde com produção de energia apenas de fontes renováveis. Em Portugal, o grupo deu um importante passo quando encerrou a sua central a carvão no início de 2021, e nos outros mercados onde opera pretende fazê-lo até 2025.
Para implementar o seu plano de transição energética, a EDP pretende duplicar a capacidade de produção de energia eólica e solar até 2025 e reforçar a sua aposta em novas tecnologias, como o hidrogénio verde ou o armazenamento de energia renovável, num investimento total de 24 mil milhões de euros até meio da década – sendo 80% desse investimento totalmente dedicado às energias renováveis.
É tempo de ouvir o planeta e mudar hábitos e comportamentos de outros tempos. É tempo de caminhar para um futuro verde.
Este é um conteúdo pago para a EDP. Não reflete necessariamente a visão da National Geographic ou da sua equipa editorial.