A Fotógrafa que Traduz a Ciência Em Imagens Deslumbrantes
"É uma loucura incrivel." Felice Frankel ajuda os alunos do MIT a olhar para o seu trabalho de uma maneira totalmente nova.

Para as “mentes matemáticas”, as linhas limpas e a lógica agradável das equações podem ser coisas adoráveis de se ver. Mas, para os mais leigos, até mesmo a matemática mais elegante pode ser algo sem sentido. O mesmo é válido para as leis fundamentais da física, para os avanços na biologia e para um qualquer número de conceitos científicos altamente complexos, mas também aplicáveis à vida quotidiana.
Portanto, como é que os investigadores conseguem que o seu trabalho faça sentido para o público? Bem-vindos ao domínio da fotógrafa Felice Frankel.
Frankel, devota da ciência com um dom para conversas animadas, está integrada no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), onde ajuda os alunos a encontrar formas visuais para representarem as suas ideias. O seu novo livro, Picturing Science and Engineering, está cheio de exemplos de investigações e de conjuntos de dados complexos, apresentados sob a forma de fotografias atraentes. A questão, diz Frankel, é ajudar os cientistas a “perceber que as imagens belas podem despertar o interesse do público”.
Fazer algo assim não requer equipamento sofisticado. Frankel prova isso mesmo no seu primeiro capítulo, chamado “Scanner de mesa”. Desde que a resolução de um scanner possa ser controlada, diz, esta ferramenta de baixa tecnologia consegue captar uma quantidade surpreendente de informações a partir de algo como um pedaço de ágata ou abalone.
“É uma loucura maravilhosa. Podemos ver detalhes impossíveis de ver com os olhos", diz Frankel. Os scanners de mesa também podem captar imagens de objetos mais complexos, como placas de Petri ou dispositivos analíticos, e exibi-los de novas maneiras. Isto surpreende geralmente as pessoas, diz, porque “a maioria das pessoas utiliza scanners para digitalizar documentos”.
Os outros capítulos do livro orientam os leitores sobre os conceitos básicos de utilização da câmara e de iluminação, bem como sobre a forma de usar microscópios e até mesmo telemóveis para representar visualmente um conceito ou para iluminar um cálculo difícil de entender. Em situações onde a ideia não é fotografável, Frankel sugere o uso de metáforas. Por exemplo, "como é que conseguimos falar sobre mecânica quântica?", pergunta. "Mesmo os físicos de mecânica quântica têm problemas, porque é algo altamente matemático".
Para ilustrar os princípios mais contraintuitivos da teoria – como a noção de que a luz pode agir como onda e partícula – Frankel fez uma imagem digital de uma maçã de vidro a projetar uma sombra quadrada. (Os físicos fazem algo semelhante quando explicam a mecânica quântica através de experiências de pensamento, como o famoso gato de Schrödinger.)
Frankel estudou biologia e química na universidade e diz que a ciência fez sempre parte da sua alma, embora se identifique primeiro como fotógrafa.
“Quando eu era criança, olhava cuidadosamente para as coisas, como todas as crianças fazem”, diz. Agora, quando Frankel se senta com um aluno para falar sobre a visualização de um conceito, começa por pedir que este lhe diga qual é a coisa mais importante que deseja comunicar. Se o aluno não conseguir explicar, Frankel pede-lhe que regresse quando o souber fazer.
"Trata-se de reduzir as ideias à sua essência e, para fazermos isso, precisamos de o perceber por nós próprios", diz.
No final do livro existe um índice visual que lista dezenas de exemplos do trabalho de Frankel, juntamente com os estudos com os quais as imagens foram publicadas. O processo é altamente colaborativo, diz, e "muito divertido". Embora a maioria dos programas de pós-graduação não inclua aulas sobre comunicação visual de ciência e engenharia, Frankel espera que isso mude no futuro.
“Eu acredito que esta geração mais jovem de cientistas percebe que o visual é extraordinariamente poderoso.”
Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site nationalgeographic.com