10 Fotografias Inesquecíveis da Nossa Edição do Ano em Imagens
Os fotógrafos da National Geographic documentaram um ano que testou, isolou, capacitou e trouxe esperança ao mundo.

Enquanto os manifestantes do movimento Black Lives Matter saíam à rua para protestar contra a brutalidade policial, desencadeou-se um vasto reconhecimento racial que levou muitas pessoas a exigirem a remoção dos monumentos dos soldados confederados que lutaram para manter a escravatura nos EUA. Em Richmond, na Virgínia, o fotógrafo Kris Graves captou o momento em que os ativistas transformaram uma estátua do general confederado Robert E. Lee num memorial a George Floyd. “Isto resume por completo os tumultos políticos deste ano e como estes tipos de crenças estão profundamente enraizados em ambos os lados”, diz Whitney Johnson.
Através dos nossos processos padrão de coloração de imagem, a National Geographic mitigou 10 situações em que a palavra “F” era visível na fotografia. “É um passo que raramente damos”, escreve a editora Susan Goldberg na edição de janeiro. “Acreditamos que destacar a fotografia é mais importante do que tirar a ênfase de um determinado palavrão; a coloração não afeta a mensagem ou o seu impacto.”
Depois de todos os tumultos de 2020 – um ano extraordinário que nos trouxe uma pandemia mortal, agitação política, considerações raciais e incêndios florestais que bateram recordes – é apropriado que a National Geographic publique a sua primeira edição de sempre do “Ano em Imagens”.
Em vez de cobrir simplesmente os eventos mais importantes do ano, a edição de janeiro da National Geographic visa captar as diversas formas pelas quais este ano nos testou, isolou, capacitou e nos chegou até a dar esperança. Os nossos fotógrafos refletem sobre o nosso desejo coletivo de segurança, sobre as razões pelas quais era importante documentar estes tempos de convulsão social e os momentos de descoberta que viveram enquanto estavam confinados em casa.
Whitney Johnson, vice-presidente de experiências visuais e imersivas, diz que este ano permitiu à National Geographic contar histórias de uma forma diferente. Embora os nossos editores de fotografia geralmente enviem fotógrafos para todo o mundo para cobrir crises e conflitos, este ano pedimos-lhes para documentarem a forma como estas histórias se estavam a desenrolar nas suas próprias comunidades – uma abordagem que nos permitiu alcançar ainda mais fotógrafos, cada um com perspetivas únicas sobre o mundo que os rodeia.
Embora tenha sido difícil encontrar vislumbres de esperança num ano tão complicado, muitas destas imagens revelam a resiliência do espírito humano e o poder das descobertas científicas – desde manifestantes reunidos em Washington D.C., que forçaram os EUA a lidarem com as realidades de injustiças seculares, às formas inovadoras que as famílias encontraram para conviver numa época de confinamento.
“Estas imagens dão-nos uma noção partilhada de comunidade”, diz Kathy Moran, diretora-adjunta de fotografia. “Estamos isolados, mas é através desta expressão visual das experiências do ano que conseguimos partilhar os momentos. Sentimos o isolamento, sentimos a esperança e sentimo-nos capacitados. É isto que a fotografia nos dá. Liga-nos de uma maneira muito diferente.”
Seguem-se 10 das inúmeras imagens inesquecíveis do nosso “Ano em Imagens”.
Cinquenta e sete anos depois de Martin Luther King Jr. ter feito o seu discurso – “Eu tenho um sonho” – em frente ao Lincoln Memorial, outra marcha atraiu milhares de pessoas até Washington D.C. para protestarem contra a brutalidade policial e a injustiça racial. Para captar esta cena, Stephen Wilkes fotografou a partir de uma só posição com a câmara fixa num guindaste elevado, captando imagens intervaladas ao longo de um período de 16 horas. Stephen editou os melhores momentos e depois combinou todas as fotografias de forma homogénea numa só imagem.
“Esta é a forma de Stephen usar a sua metodologia única para captar o tempo num dos momentos seminais do verão”, diz Kathy Moran. “A beleza disto, quando olhamos para a imagem, para além da sensação de movimento, vemos todas as personagens principais, incluindo o Reverendo Al Sharpton e a neta de Martin Luther King, que foram vitais para o sucesso daquele dia.”
Em Mons, na Bélgica, duas enfermeiras refugiam-se brevemente na companhia uma da outra durante uma pausa no seu turno. Como aconteceu um pouco pelo mundo inteiro, os hospitais belgas também ficaram inicialmente sobrecarregados com o fluxo de pacientes que chegavam com uma nova doença viral. Estas enfermeiras, retiradas das suas funções normais, foram colocadas a tempo inteiro na secção hospitalar dedicada à COVID-19 – tropas de reforço para uma longa batalha. As enfermeiras estavam tão exaustas que nem repararam em Cédric Gerbehaye, um fotojornalista veterano que já cobriu conflitos no Congo e no Médio Oriente.
“Foi a primeira vez que Cédric sentiu medo tão perto de casa”, diz Whitney Johnson. “Acho que é essa a realidade para estes fotógrafos. Eles estão tão habituados a irem para outros sítios para encontrar estas histórias e sentir esse medo, e aqui estava ele à porta de casa.”
Depois de mais de dois meses sem qualquer toque humano, Mary Grace Sileo (à esquerda) e a sua filha, Michelle Grant, e outras pessoas da sua família, encontraram uma solução – penduraram um plástico no estendal do quintal de Mary, em Wantagh, Nova Iorque. Com uma pessoa de cada lado, abraçaram-se através do plástico. “Apesar de tudo o que temos enfrentado, ainda encontramos maneiras de nos ligar”, diz Kathy Moran.
Por toda a Califórnia, numa temporada de incêndios que bateu recordes, os bombeiros lutaram contra incêndios florestais massivos que dizimaram milhões de hectares e forçaram centenas de milhares de pessoas a abandonar os seus lares. O fotógrafo Stuart Palley, bombeiro florestal qualificado que fotografou mais de 100 incêndios por todo o estado da Califórnia, cobriu os incêndios florestais para a National Geographic. Embora tenha observado as temporadas de incêndios a piorarem gradualmente ao longo dos anos, Stuart diz que nunca viu uma coisa assim. “É um cerco de fogo.”
O médico Gerald Foret coloca uma máscara protetora antes de atender pacientes com COVID-19 no Hospital Our Lady of the Angels em Bogalusa, no Louisiana. Em 2020, entre a pandemia e a violência dos incêndios florestais, a segurança foi uma prioridade para todos, incluindo para os editores de fotografia da National Geographic. “Este foi um ano em que estivemos extremamente vigilantes sobre a segurança dos nossos fotógrafos”, diz Whitney Johnson. Em vez de enviarmos fotógrafos para o mundo inteiro, muitos ficaram perto de casa para mostrarem como é que esta crise global estava a afetar as suas próprias comunidades.
Quando o confinamento foi levantado em Itália, os rituais que tinham sido adiados puderam facilmente acontecer. O fotógrafo Davide Bertuccio registou um dos primeiros casamentos pós-confinamento do país, com Marta Colzani e Alessio Cavallaro a usarem máscaras dentro da Igreja de San Vito, na cidade de Barzanò, perto de Milão. Em março, o Vaticano emitiu um decreto que deixava ao critério dos bispos o planeamento dos serviços religiosos.
A National Geographic assinalou o 100º aniversário do sufrágio feminino nos Estados Unidos com uma reflexão sobre a forma como os ativistas modernos estão a promover o envolvimento cívico – durante um ano que viria a ser contencioso em termos de eleições presidenciais. A fotógrafa Celeste Sloman fez este retrato de Winter BreAnne, uma jovem ativista de Riverside, na Califórnia, que desenvolveu um programa que tem como objetivo convencer os jovens de que votar é importante.
“É assim que elegemos as pessoas que nos representam”, diz BreAnne. “Se não expressarmos a nossa opinião dessa maneira, e quando nem todas as pessoas têm esse direito, estamos a renunciar a muito poder político.”
“Foi muito fácil encontrar fotografias que mostrassem um mundo em isolamento”, diz Whitney Johnson sobre o processo de curadoria da edição do “Ano em Imagens”. Em 2020, a pandemia de COVID-19 isolou nações inteiras umas das outras e devastou as economias locais que dependem do turismo. Nesta imagem, captada por Muhammad Fadli, o Aeroporto Internacional de Yogyakarta da Indonésia – uma nova instalação em Java Central que foi construída para receber 20 milhões de viajantes por ano – estava vazio um dia depois de o governo ter anunciado severas restrições nas viagens.
“Grande parte do trabalho feito no último ano foi, de muitas maneiras, para se encontrar algo de positivo na COVID-19”, diz Kathy Moran. Na Tanzânia, com o Parque Nacional do Serengeti encerrado aos turistas, o fotógrafo de vida selvagem Charlie Hamilton James descobriu que um dos pontos positivos da pandemia era poder ter o Serengeti só para ele – para além das debandadas ocasionais de gnus que corriam pelas encostas empoeiradas.
Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site nationalgeographic.com.