Colossal Estátua de Faraó Com 3 000 Anos Muda de Lugar
Uma estátua de 83 toneladas de Ramsés II, o maior rei do antigo Egito, chega ao Grande Museu Egípcio.
GIZÉ, EGITO. No Egito do século XXI, os faraós ainda viajam em grande estilo. Uma fanfarra e guarda militar montada estiveram presentes para escoltar uma enorme estátua de Ramsés II na sua quarta viagem em 3200 anos.
Esta viagem final da estátua colossal foi, também, o percurso mais curto que fez: um passeio de cerca de 365 metros do edifício temporário em Gizé, onde esteve pouco mais do que uma década, até ao imponente átrio de entrada do novo Grande Museu Egípcio, o seu destino permanente planeado.
Qualquer movimento da estátua é percetível devido à sua dimensão incrível. Pesando 83 toneladas e com mais de nove metros de altura, a escultura em granito que ilustra o faraó da XIX dinastia foi transportado numa estrutura de metal especialmente construída para o efeito, sobre dois atrelados, puxada lentamente por um camião laranja-vivo enfeitado com a bandeira do Egito.
Ramsés II, também conhecido como Ramsés o Grande, é amplamente considerado o faraó mais poderoso do antigo Egito. Durante o seu reinado de 1279 a 1213 a.C., organizou campanhas militares em Núbia, Síria e Canaã, derrotou o enigmático Povo do Mar numa batalha naval no Delta do Nilo e conquistou a vitória sobre os rivais Hititas do Egito na Batalha de Kadesh (um conflito que terminou com a assinatura do primeiro tratado do mundo).
Ramsés também construía a uma escala colossal, sendo um dos melhores exemplos o enorme complexo de túmulos, o Ramesseum, nas margem do Tebas e o Grande Templo em Abu Simbel, onde representações de cerca de 19 metros de altura do faraó sentado no seu trono guardam a entrada.
O colosso que chegou ao Grande Museu Egípcio teve um percurso sinuoso, começando com o seu transporto das pedreiras de Aswan até ao Templo de Ptah na antiga capital de Mênfis no século XIII a.C. Perdida nas areias durante milénios, a estátua foi redescoberta pelo egiptologista Giovanni Battista Caviglia (o arqueólogo que escavou originalmente a Esfinge) em 1820. Caviglia ofereceu a sua descoberta, deitando-a de lado e dividindo-a em seis pedaços, a um duque italiano que rejeitou o seu presente devido ao custo e ao lado prático de movimentar a escultura enorme. O British Museum rejeitou, mais tarde, uma oferta semelhante da estátua por parte de um paxá egípcio por motivos semelhantes.
O colosso de Ramsés permaneceu entre as ruínas da antiga Mênfis (atual cidade de Mit-Rahina), na margem ocidental do Nilo a cerca de 45 km a sul de Cairo durante mais de 130 anos. Em 1954, Gamal Abdel-Nasser, presidente do Egito, deu a ordem para que a estátua fosse trazida para o Cairo para comemorar o segundo aniversário da Revolução de 1952, que aboliu a monarquia constitucional e para afirmar o antigo legado do Egito. Os fragmentos foram transportados de tanque (diz-se que os leões do Jardim Zoológico de Gizé rugiram em uníssono à passagem do grande faraó) e a estátua foi montada, restaurada e erigida no centro da praça de Bab Al-Hadid, em frente à principal estação ferroviária do Cairo.
Durante 50 anos, a estátua permaneceu como uma sentinela silenciosa no centro de uma rotunda, firme entre a confusão das avenidas e passagens da cidade, autocarros ruidosos e buzinas de carros. Em 2006, preocupado que as emissões de CO2 estivessem a danificar a antiga escultura de granito vermelho, o governo egípcio deslocou a estátua para Gizé para antecipar uma eventual instalação da mesma na entrada do Grande Museu Egípcio. Milhares de moradores acenaram e aclamaram à medida que Ramsés o Grande, carinhosamente apelidado de "Avô", fez uma viagem de 10 horas num camião pelas ruas da cidade do Cairo, embrulhada em camadas de espuma protetora e suspensa na mesma estrutura de metal utilizada na mais recente mudança.
Tal como tinha acontecido das outras vezes que Ramsés tinha mudado de local, a sua última mudança foi um grande espetáculo e evento para a comunicação social. No entanto, neste caso o seu destino também está a figurar nas manchetes pelo mundo inteiro.
Apelidado "o maior museu do mundo", o Grande Museu Egípcio foi concebido em 2002 como um depósito moderno para os antigos tesouros do Egito e o edifício de 85 mil m2 está a ser construído à sombra das icónicas pirâmides de Gizé. Quando o museu estiver terminado em 2020, com um custo de cerca de mil milhões de dólares norte-americanos, terá a capacidade para exibir 100 mil artefactos.
A estátua de Ramsés é o primeiro artefacto a entrar na coleção permanente do GME, segundo Tarek Tawfik, supervisor geral do museu.
A mudança do colosso em Gizé, presidida pelo Ministro das Antiguidades, Khaled El-Anany, além de uma multidão de importantes ministros egípcios, oficiais e dignatários estrangeiros, bem como inúmeros elementos de imprensa, demonstra que mesmo após milhares de anos, só a mera escala das criações de Ramsés ainda tem a força para causar espanto. Em 2017, um fragmento de uma colossal estátua faraónica desenterrada num bairro da cidade do Cairo virou manchete à escala internacional e foi originalmente (e erradamente) identificada como sendo de Ramsés o Grande devido à sua dimensão enorme. Um fragmento de outra estátua colossal de Ramsés, desenterrada em 1817 e agora patente no British Museum, acredita-se que tenha inspirado o célebre soneto de Percy Bysshe Shelley, Ozymandias: "Meu nome é Ozymandias, Rei dos Reis; Contemplem as minhas obras, ó poderosos e desesperai-vos!"