Acampamento romano em Melgaço classificado como um dos maiores e mais antigos do país
Investigador apresenta o acampamento romano de Melgaço como o maior e mais antigo do Norte de Portugal e da Galiza.

Imagem aérea oblíqua realizada com recurso a um drone com detalhe das linhas de muralha do recinto da Lomba do Mouro.
O sítio da Lomba do Mouro, em Melgaço, foi indicado como o maior e mais antigo acampamento romano da Galiza e do Norte de Portugal. Trata-se de um acampamento militar romano, no planalto de Castro Laboreiro, alvo de intervenção arqueológica em setembro de 2020.
A datação da muralha do recinto aponta a sua fundação em torno ao século II a.C., que coincide também com a famosa expedição do Décimo Júnio Bruto, um general e político romano que passou o rio Lima e chegou até ao rio Minho.
Os resultados da intervenção arqueológica na Lomba do Mouro, indicam que o acampamento romano seria de caráter temporário, possivelmente vinculado com a penetração e saída do atual território português e galego de um importante contingente militar de mais de 10.000 soldados.
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Investigação procura vestígios do maior acampamento romano
A campanha arqueológica confirmou a existência de duas linhas de parede de pedra que puderam ser bem caracterizadas, incluindo elementos defensivos singulares, como pedras fincadas ou cavalos de frisa, um sistema para impedir o avanço da cavalaria ou das tropas do exército inimigo.
Detalhe da sondagem aberta na linha de muralha interior.
Detalhe da sondagem aberta na linha de muralha exterior onde são visíveis as pedras fincadas.
A campanha foi liderada pelo arqueólogo da Universidade de Exeter João Fonte, no âmbito do projeto Finisterrae, financiado pela Comissão Europeia através de uma bolsa individual Marie Sklodowska-Curie.
Imagem LiDAR (IGN-PNOA) do recinto da Lomba do Mouro onde se pode apreciar a sua planta de tendência poligonal e as suas duas linhas de muralha, bem como a presença de alguns monumentos megalíticos.
Durante o decorrer da mesma, foram recolhidas amostras de sedimentos que foram analisadas através de luminescência, uma técnica que permite datar a última vez em que os cristais de quartzo foram expostos à luz do sol. Essas análises foram efetuadas por um grupo de investigação do C2TN – Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares, no laboratório de datação por luminescência do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa.
O acampamento romano de maiores dimensões do Noroeste Peninsular
Até à data, o acampamento romano mais antigo, escavado pelo grupo científico romanarmy.eu, foi o de Penedo dos Lobos, em Ourense (Espanha), onde foram encontradas moedas ligando o recinto às campanhas bélicas conhecidas como Guerras Cantábricas, com a qual o imperador Octávio Augusto encerrou o processo de conquista da Hispânia.
O acampamento de Lomba do Mouro situa-se numa zona de especial concentração de sepulturas megalíticas e foi descoberto através da tecnologia LiDAR, fornecida pelo projeto espanhol PNOA — Plan Nacional de Ortofotografia Aérea do Instituto Geográfico Nacional.
A área deste acampamento ocupa mais de vinte hectares de terreno, com duas linhas defensivas, sendo que a apenas oito quilómetros em linha reta o grupo científico romanarmy.eu localizou ainda outro sítio militar temporário de dimensões semelhantes, a Chaira da Maza, no concelho de Lobeira, em Ourense, o que leva à hipótese de se tratar de uma linha de avanço romana.
Um fim último deste trabalho seria poder criar uma rede transfronteiriça para dar a conhecer estes sítios temporários que se relacionam com o primeiro contacto do exército romano com as comunidades indígenas da região entre Lima e Minho. Neste sentido, existe uma real necessidade de continuar os estudos de investigação científica e arqueológica, para depois se apostar, de uma forma integrada na valorização destes sítios localizados no território da Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés.
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Romanarmy.eu é um coletivo científico que investiga a presença militar romana no Noroeste da Península Ibérica, sendo formado por investigadores de distintas universidades e centros de investigação europeus, diferentes disciplinas e especialistas em várias épocas históricas.
O trabalho de campo, que durou cerca de duas semanas, foi realizado em colaboração com a empresa Era-Arqueologia. Os arqueólogos trabalharam exclusivamente na parte portuguesa do local, numa investigação financiada pelo Fundo Ambiental do Ministério do Ambiente e Ação Climática, pela Câmara Municipal de Melgaço e pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), no âmbito da valorização da rede de trilhos do Planalto de Castro Laboreiro.
O coletivo romanarmy.eu produziu um documentário que explica as novas descobertas arqueológicas realizadas na zona do Gerês-Xurés e que pode ser visto no YouTube. O documentário foi filmado em inglês e conta com legendas em galego, português e espanhol.