Invasão de Propriedade e Vandalismo nos Parques Nacionais Afetados Pelo Coronavírus
Enquanto a pandemia leva ao encerramento de vários parques, alguns visitantes testam os limites – e as equipas dos parques tentam lidar com a situação.

O Rio Grande marca a fronteira entre o Desfiladeiro de Santa Elena (à esquerda), protegido pelo México, e o Parque Nacional Big Bend do Texas, que está temporariamente encerrado durante a pandemia de coronavírus.
Até os parques norte-americanos estão a sentir a pressão da pandemia de coronavírus.
Embora existam limites no número de pessoas que podem estar juntas e as ordens de confinamento restrinjam o movimento de milhões, o tempo passado ao ar livre é agora mais vital do que nunca. Nos EUA, dezenas de parques nacionais encerraram por completo e, apesar da controvérsia, algumas zonas públicas permanecem abertas – e os visitantes estão a testar os limites.
As instalações para visitantes da Área Nacional de Recreação Golden Gate estão encerradas, mas os seus espaços ao ar livre permanecem abertos ao público. O pedido de confinamento na Califórnia permite atividades ao ar livre, desde que se respeitem as distâncias de segurança, e vários parques registaram um aumento no número de visitantes em finais de março.
Invasão de propriedade e fogo posto
A enorme quantidade de parques encerrados fez com que os viajantes começassem a procurar novos destinos, incluindo o Monumento Nacional Sunset Crater Volcano, no Arizona.
Criado em 1930 para proteger a paisagem pitoresca que uma equipa de filmagens de Hollywood queria explodir, o monumento de Sunset Crater, que não fica muito longe de Flagstaff, assistiu a um aumento no seu número de visitantes. Uma das estradas que serpenteia pela Floresta Nacional de Coconino atravessa o monumento em direção a norte, perto do Monumento Nacional de Wupatki. Apesar de estes dois monumentos e respetivos terrenos estarem encerrados, a estrada não está, porque dá acesso a terrenos florestais nacionais e a residências particulares.
Brenda Emry, guarda florestal em Sunset Crater, diz que passam por ali mais de 45 veículos por dia – mais do que o número de residentes ou o tráfego do Serviço Florestal.
“O tráfego é mais intenso do que poderíamos esperar neste momento, durante uma pandemia”, diz Brenda. “Qualquer pessoa que abandone a estrada está basicamente a invadir propriedade. Eu diria que, diariamente, cerca de 18 a 20 pessoas tentam sair da estrada para fazer caminhadas nos nossos trilhos.”
Os veículos têm matriculas de vários estados: Califórnia, Nova Iorque, Novo México, Wisconsin. “As pessoas foram informadas para ficarem em casa em confinamento, mas ainda assim, parece que sofrem de algum tipo de problema com o isolamento. Ainda há muitos viajantes.”
No Parque Nacional de Shenandoah, na Virgínia, a equipa do parque tenta lidar com as indicações contraditórias das autoridades.
“Estamos a tentar encontrar um equilíbrio entre as diretrizes do Centro de Controlo de Doenças e as palavras do governador”, disse Sally Hurlbert, porta-voz do parque de Shenandoah. “O governador diz para as pessoas ficarem em casa, mas também deixa a porta aberta para que se desloquem até aos lugares públicos, para fazerem exercício e apanhar ar fresco – por questões de saúde mental e física.”
Até ao dia 8 de abril, mais de 100 km da estrada Skyline Drive, desde Front Royal Sul até Swift Run Gap, estavam encerrados à circulação de veículos – embora estivessem abertos para ciclistas e pedestres, porque os municípios vizinhos pediram ajuda para reduzir as multidões atraídas pelos trilhos do parque. Mas nesse mesmo dia à tarde, o parque de Shenandoah encerrou por completo.
A equipa do parque também decidiu ficar de vigia durante a noite – as pousadas estão fechadas, é proibido acampar e a equipa não quer incentivar as caminhadas noturnas. Mas ainda há alguns visitantes de Shenandoah que pensam que ninguém está a observar.
“Temos assistido a alguns atos de vandalismo, mas o que há mais é o que chamamos de comportamentos incómodos”, disse Hurlbert. “Pessoas que fazem peões com os carros nos parques de estacionamento e nos miradouros. Também assistimos a um aumento no excesso de velocidade; há pessoas que aceleram pela Skyline Drive. E lixo, muito lixo, mais do que o normal. Estamos a tentar acompanhar o saneamento, mas isso coloca os nossos guardas florestais em risco porque eles precisam de apanhar o lixo e esvaziar os contentores – e o coronavírus pode sobreviver durante um determinado período de tempo no papelão e em superfícies de plástico.”
Mas os problemas não se limitam aos comportamentos incómodos: Há relatos de fogo posto no Ozark National Scenic Riverways, no Missouri. A equipa do parque anunciou a oferta de uma recompensa de até 10 mil dólares por informações que levem à condenação de quem deflagrou o incêndio florestal de Pot Hole, no dia 9 de março, fogo que ameaçou uma residência particular.
Os parques nacionais de Yellowstone e Grand Teton encerraram no dia 24 de março. A hesitação do Serviço Nacional de Parques dos EUA em fechar os parques durante os estágios iniciais da pandemia foi alvo de muitas críticas de especialistas.
Olhar para o futuro
À medida que o teletrabalho se torna no novo normal para as equipas da maioria das unidades dos parques que encerraram as instalações, alguns funcionários do Parque Nacional Big Bend, no Texas, concentraram-se nos projetos que estavam atrasados.
“Estamos a fazer muito trabalho ao ar livre”, disse o superintendente Bob Krumenaker. “Trabalhos nos trilhos e na vegetação. Estamos a pintar o centro de visitantes e a limpar tudo a fundo. Mantemos a distância social, mas estamos a trabalhar arduamente e a tentar colocar o parque nas melhores condições possíveis, para que, quando reabrirmos ao público, as pessoas possam ver que passámos o tempo de forma produtiva.”
Jennifer Pharr Davis mal pode esperar que reabram os parques. Davis, que em 2011 estabeleceu o recorde para a caminhada mais rápida no Trilho Appalachian, trilho com mais de 3.500 km de extensão, é proprietária de uma empresa de caminhadas guiadas em Asheville, na Carolina do Norte, junto ao Parque Nacional Great Smoky Mountains e da estrada Blue Ridge Parkway.
O encerramento das Great Smoky Mountains, e a recomendação da Appalachian Trail Conservancy para as pessoas evitarem o icónico trilho, forçaram o cancelamento das caminhadas programadas de Davis.
“Estamos agora encerrados a cerca de 90%”, disse Davis. “As nossas viagens foram canceladas, a maioria dos parques nas redondezas está fechado, e a nossa loja também fechou. Agora, a parte mais difícil é saber quando é que podemos reabrir e começar a agendar as coisas novamente. Do ponto de vista comercial, fechámos tudo, exceto o comércio online.”
E parece que alguma da vida selvagem também está desejosa que os visitantes regressem.
“Agora que as pessoas se afastaram, já não temos tantas gaivotas e corvos a rondar”, disse J.J. Condella – gerente da Flamingo Adventures, empresa que fica no extremo sul do Parque Nacional Everglades – sobre as aves que andavam sempre por perto à espera para roubar alguma comida dos almoços dos visitantes. “Parece que as aves perderam a esperança e foram para outra região.”
Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site nationalgeographic.com.