Galeria Fotográfica: Fotografar o Céu Noturno
Publicado 5/11/2020, 06:15 WET

O contribuidor editorial Jim Richardson é um fotojornalista reconhecido pela sua exploração de questões ambientais e apoio do céu noturno. As suas fotografias aparecem regularmente na revista da National Geographic.
Algo maravilhoso aconteceu na fotografia: pessoas comuns podem agora fotografar o universo. Estar sob a Via Láctea foi desde sempre uma fantástica visão, se tivéssemos a sorte o suficiente para encontrar um céu escuro numa noite escura. A revelação de novos avanços na fotografia digital é, no entanto, que a faixa turva de luz prateada que vemos a olho nu é na realidade uma gloriosa e estupenda galáxia. Para mim, a revelação surgiu na primeira vez que tirei uma fotografia da galáxia e apercebi-me que, só porque o universo visível está tão longe, não significa que eu precisasse de um grande telescópio para o fotografar. Não, o que precisavam era uma lente grande angular por ser tão grande – e nós vivemos no meio dela. Quando mostro a pessoas jovens a minha primeira fotografia publicada da Via Láctea, gosto de salientar que esta é a nossa casa. A Terra está a um terço de um dos braços vastos braços espirais de estrelas e nuvens de poeira. Ter a capacidade de tirar uma fotografia desse universo é algo novo por aqui. E também é divertido.
Aponta para as Estrelas
Procura imagens fantásticas do céu noturno. Vivemos na era de ouro da tecnologia fotográfica. Há dez anos, esta simples fotografia teria sido impossível de tirar. Há cinco anos era vanguardista. Agora está dentro dos limites de qualquer fotógrafo amador que tenha vontade de a fazer.
Mas não pare na captação da luz, de algumas estrelas ou a Via Láctea. Ponha o nosso mundo diretamente no meio do universo que podemos ver a olho nu (ele está lá todas as noites). Inclua a paisagem – e procure oportunidades de captar algo único.
Por exemplo, a Arizona Sky Village, em Portal, no Arizona, é um projeto de habitações sob um céu escuro. Cada casa tem um telescópio incorporado e uma das ruas é na realidade chamada Via Láctea, o que eu queria mostrar. Um pequeno estalo do flash resolveu a questão. Não sei em que outro sítio do mundo se consegue uma fotografia destas. —Jim Richardson
Fotografia de JIM RICHARDSON
Aumenta o ISSO
O maior avanço fotográfico para fotografar o céu noturno foi o deslumbrante avanço da sensibilidade da câmara a pouca luz. Há sete anos, o ISO 1600 era vanguardista. Hoje, o ISO 6400 (e acima) é comum.
A minha exposição padrão (aquela que mantenho no meu subconsciente) para a Via Láctea é 60 segundos, f/2.8 e ISO 6400. Isso faz a Via Láctea do Sul luzir como uma nuvem brilhante. Mas isto acontece com uma lente de 14mm com um sensor full-frame. Não é possível ir mais longe que isso porque as estrelas tornar-se-ão visivelmente em estrias. E se tirar fotografias com uma lente mais curta, o tempo de exposição aceitável cai.
Nota: oiço fotógrafos a encolherem-se por causa do ruído que se obtém com o ISO 6400. O meu conselho: usem um software que reduza o ruído, uma ferramenta perfeitamente aceitável. —Jim Richardson
Fotografia de JIM RICHARDSON
O equipamento não vai resolver todos os problemas, mas há um patamar para fazer fotografia do céu noturno. Uma câmara de aponta-e-tira não vai funcionar. Mas a maioria das câmaras DSLR conseguem cumprir a missão. O meu melhor conselho é arranjar uma lente f/2.8 ou mais rápida. Quanto mais ampla, melhor, mas uma lente de 24mm, f/2.8 e com uma distância focal fixa fará maravilhas.
Claro que é preciso um tripé, dos sólidos, que não oscilem se lhe tocares. Um cabo disparador é bom – e essencial se quiseres ir para além de exposições de 30 segundos. Um cabo disparador que venha com um temporizador incluído pode dar muito jeito.
Depois aprende a improvisar. Na noite em que tirei esta fotografia na Samoa Americana, o meu tripé estava na barriga de um avião algures. Por isso, montei uma câmara na borda da minha varanda e apoiei-a numa pedra pequena. Sólida como uma rocha, numa força de expressão. —Jim Richardson
Fotografia de JIM RICHARDSON
Podes esperar por aquela noite de sorte quando a lua nasce inesperadamente ou podes planeá-lo. Planear funciona melhor. Um glorioso nascer da lua sobre a Golden Gate Bridge com o luar sobre a baía foi o que quis captar – e com a ajuda de uma aplicação, soube quando iria acontecer.
Existe um grande número de aplicações que te dirão quando esperar o evento que queres fotografar. Acima de todas as outras está a Photographer’s Ephemeris. Estranho nome, grande aplicação. Disponível para as maiores plataformas, dá-te as horas para o nascer e o desaparecer da lua para qualquer data (mesmo anos futuros) e de qualquer posição na Terra. No entanto, também o mostrará através de uma fotografia de satélite, pelo que vais saber exatamente onde estar quando a lua subir.
Para informação sobre a Via Láctea vais querer arranjar um dos softwares de astronomia ou aplicações para smartphones, que são fantásticos para planear uma viagem. Elas dizem-nos exatamente onde um objeto celestial estará no céu, visto de qualquer parte da Terra, em qualquer data e hora. Cenas poderosas. Eu gosto do SkyGazer 4.5, mas existem muitas opções disponíveis. —Jim Richardson
Fotografia de JIM RICHARDSON
“A lua cheia nasce com o pôr-do-sol”. Grava isto no teu cérebro. É a primeira (e a mais simples) regra que precisas de aprender.
Felizmente a lua é das coisas mais previsíveis na vida (depois do sol e os impostos). Aqueles poucos minutos de lusco-fusco logo a seguir a ela ter nascido, são os momentos dourados para tirar fotografias da lua porque ainda existe alguma luz sobre a paisagem que balanceia bem com o seu brilho. Apesar da lua ser previsível, não é sempre fácil tirar a fotografia certa. Foi isso que descobri no Aeroporto Internacional de Denver. Tinha a minha lente de 600mm montada e esperava, mas apesar de todo o meu planeamento, quando ela espreitou sobre o horizonte, eu estava a 90 metros da posição certa. Foi uma correria durante alguns segundos, rua abaixo, mas consegui. Só existem 13 destas meninas por ano. Tira o melhor partido delas. —Jim Richardson
Fotografia de JIM RICHARDSON
Tirar fotografias do luar – como um romance – pode ser divertido ou frustrante. A lua cheia é na realidade muito brilhante (tente 20 segundos, f/4, ISSO 400 para começar) e muitos fotógrafos têm a mesma primeira reação: esta fotografia da lua parece-se com a luz do sol! Baixa um pouco a exposição e incluí algumas estrelas ou luz noturnas (como eu fiz aqui, ao fotografar uma quinta eólica no Kansas) e de repente a fotografia torna-se impressionante. Cuidado quando avaliares as tuas fotografias: o ecrã LCD da câmara parece super-brilhante à noite. Vai-te enganar para tirares fotografias que vão estar muito escuras. Aprende a usar o histograma da tua máquina – depois acredita nele e não nos teus olhos. —Jim Richardson
Fotografia de JIM RICHARDSON
O equilíbrio de cores pode ser um problema. Primeiro, os nossos olhos não conseguem ver cor no céu noturno. A Via Láctea é apenas uma massa ligeiramente cinzenta para os nossos olhos. Não temos por isso uma real perceção de que cor o céu noturno realmente é. Muitas vezes, em exposições longas, a cor acaba por ser algo que não estavas à espera, por vezes quente demais. Algo mais azul na extremidade do balanço de brancos parece-se mais verdadeiro. Tenta configurar a câmara para configuração parecida com indoor no equilíbrio de brancos em vez de luz diurna. Fotografa em modo RAW (não JPG) para que tenhas o maior controlo possível para ajustar mais tarde.
Tive sorte naquela manhã quando Jack Newton, residente em Portal, no Arizona, saiu cedo de casa; o céu já estava mudar para um azul leve. Ele usava uma luz vermelha e eu pus um assistente a iluminar a parede de tijolo cru com uma lanterna. —Jim Richardson
Fotografia de JIM RICHARDSON
Se alguém estivesse lá para me ver nas planícies salinas de Bonnevile no Utah na noite em que eu tirei esta fotografia, se calhar ainda hoje estaria preso. Parecia um homem que tinha perdido as chaves – ou os berlindes. No entanto, passar com a luz da lanterna com que ando na minha mala sobre as cristas de sal, permitiu que tivesse luz suficiente para fazer com que o primeiro plano sobressaísse. Começaria com uma exposição de dois minutos e durante os primeiros 10 a 15 segundos passar a luz de relance sobre o sal em baixo, com a lanterna a apenas centímetros do lago. Ao ver esta imagem no ecrã LCD, ajustava e tentava outra vez. Com alguma prática é possível iluminar muito com uma lanterna muito pequena. —Jim Richardson
Fotografia de JIM RICHARDSON
Fotografar o céu noturno exige adaptabilidade – e um pouco de humildade. Terás que resolver problemas constantemente, mas sentir-te-ás triunfante quando conseguires.
Ás vezes as nuvens assumem o palco principal, e é aí que deves entrar no modo limonada e fazer o que puderes com o que te é dado. Uma noite, em Saint Louis, o Gateway Arch estava tomado por nuvens quando cheguei la, mas afinal tornou-se uma bênção. As luzes da cidade transformaram as nuvens baixas numa cor salmão (que eu não “corrigi”), e os focos no Arch estavam a criar estranhas sombras e padrões na base das nuvens. A capacidade de tomar um caminho diferente e ir noutro sentido criativo pode salvar muitas situações. —Jim Richardson
Fotografia de JIM RICHARDSON
A única maneira de conseguir melhores fotografias do céu noturno é encontrar um local com um céu realmente escuro. Cada vez mais, no nosso mundo inundado em luzes urbanas, isso está cada vez mais difícil. Durante centenas de milhares de anos a humanidade sentou-se debaixo das estrelas à noite (como eu fiz, com esta família no Burkina Faso, na África subsariana) e maravilharam-se com as maravilhas do universo. Não devíamos deixar esse deslumbramento sair das nossas vidas. Este é um problema sobre o qual podemos fazer alguma coisa. Muitos grupos, provavelmente alguns na sua área, trabalham para preservar a beleza do céu noturno da pressão das cidades e municípios para controlar a luz noturna. E a Associação Internacional para o Céu Noturno oferece um vasto grupo de programas e recursos.
Podemos salvar largos trechos do nosso céu noturno. Não é apenas bom para nós, é bom para todos aqueles grilos que dependem da escuridão para sobreviver. —Jim Richardson
Fotografia de JIM RICHARDSON